segunda-feira, 23 de outubro de 2017

A menina da janela

Passei anos da minha vida
a olhar para aquela janela.
Nada de mais havia nela,
apenas um rosto a sorrir.
Era uma menina,
uma garota,
uma moça,
uma mulher.
Cada detalhe do rosto
alterava uma curva que não comprometia.
O sorriso dela se mantinha igual.
Uma menina,
uma garota,
uma moça,
uma mulher.
Nada de mais havia,
apenas um sorriso.
Um dia, percebi que algo
mudava ali.
Não havia mais um sorriso,
Não havia mais um rosto na janela.
Passei muito tempo sem entender
o que podia ter acontecido.
Só então percebi
que fui eu que mudei de direção
e errei o caminho.
E tudo perdeu o sentido.

sábado, 20 de junho de 2015

Não me apedreja

Diferenças são trilhas do dia a dia.
Desavenças são ruas sem saída.

A coisa anda esquisita - há muito tempo não tinha essa sensação de que algo está fora do lugar.
Sinto-me, também, apedrejada, quando vejo olhares indiferentes a minha opção de não pertencer a uma seita religiosa.
Precisava tocar nesse assunto neste momento. Nunca me incomodei tanto como agora, pressinto  uma onda se formando e que pode nos engolir brevemente.
Em todos os cantos do mundo, sinais claros de intolerância religiosa. O que aconteceu? o que acontece? onde ficou o sentido de amar a Deus e todas as criaturas? na teoria, no livro sagrado, no altar? por que só teorizar o evangelho e não praticá-lo? Essas indagações cada vez mais me intrigam.
Algo está fora do lugar, insisto nisso.
Este  desabafo é de alguém que não se encaixa em nenhum dogma religioso, mas que tem uma fé grandiosa no evangelho e o no que ele representa.
Minha fé não está dentro de uma igreja, de um templo, de um centro, de uma mesquita, de um terreiro. Ela está em minha liberdade.
Gosto de poder transitar por onde meus pés me guiam. Gosto de me preencher de uma sabedoria aqui, outra ali, acolá. Um ir e vir, sem tempo, sem medo, sem regras.
Como partícula divina entendo que pertenço ao Cosmos. Não me apedreja por isso!
Sejamos tolerantes com o direito do outro de fazer suas escolhas e serem felizes com elas.
Tive a sorte (sim!!) de ter sido neta de benzedeiras, filha de umbandista e católico,  amiga (até hoje) de tantas criaturas de crenças diferentes.
Como ainda é bom e enriquecedor transitar por vários caminhos de fé sem estacionar em nenhum, mas levar o que há de  melhor deles.
Respeite minhas orações silenciosas - elas pedem por você também.
Não preciso fazer alarde disso, pois "Ele" que está no secreto me atenderá.
Tolere a minha "fé" pelo amor de Deus!









quarta-feira, 3 de junho de 2015

O menino que vendia balas

Está difícil manter a serenidade nos tempos atuais. Os olhos não querem mais ver tanta maldade, os ouvidos não querem mais ouvir tantas notícias ruins, a boca não quer mais sorrir amarelo, os braços não querem mais abraçar o mundo - não há forças. Levei uma facada da sociedade.
Comecei amarga, confesso, mas não perdi (ainda)  a esperança. Sigo com meu olhar atento às simplicidades do cotidiano. Sensibilizando-me, sigo em paz (interior).
Outro dia, observei no trem (estava indo para a Central do Brasil) um menino, de uns doze ou treze anos, vendendo balas. Ele se portava como um adulto com todo aquele linguajar habitual de vendedor ambulante, muito esperto mesmo. Notei o brinco na orelha direita e as unhas sujas dos pés. Era alegre, vendia o seu produto com desenvoltura e até dava balas para conquistar futuros clientes. Pensei comigo: para estar naquele horário da tarde num trem vendendo balas, estudaria em que horário? de manhã cedo? à noite, naquela idade? ou não estaria matriculado em nenhum escola?
Ele falava com tanta desenvoltura - teria aprendido essa gramática na escola? na vida? 
Meus pensamentos giravam em  minha cabeça.
Um garoto desses em aula de língua portuguesa, que talento poderia ser desenvolvido. Que desperdício não estar em uma escola de qualidade!
Por um momento, quase perguntei a ele sobre a escola... mas tive medo. Sim, tive medo de ser mal interpretada. Era um menino... e tive medo. Medo do medo dele. Medo de provocar uma reação que pudesse me chocar ainda mais. Medo do menino. Medo de mim...
Diante das minhas indecisões, surge no vagão um rapaz falando espanhol, parecia um "paraguaio" e começou a tocar o seu instrumento musical. A melodia  era muito bonita.
O menino das balas parou de vender. Parou o olhar naquele músico. Sentou em um banco ao lado de uma senhora que há muitas estações conversava ao celular. E com olhos de menino acompanhou a melodia. Não piscava. Encantado, percebi que voltava a ser criança. E eu também encantada, mas com a cena.
O trem chega à Central do Brasil. Desembarcamos.
Cada um para o seu lado.
Cada um com seus medos, mas com uma pontinha de encanto do lado esquerdo do peito. 



quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

2013 o ano que não terminou

Procuro uma sombra para fugir do sol. Nunca pensei que fosse querer isso em pleno verão. Mas o sol não está para praia.
Ainda não vi neste ano (ah, chegamos em 2014!) a cor do mar e confesso que não estou deprimida por isso. Prefiro tomar banho de espuma em casa.
Às vezes tenho a impressão que 2013 não terminou. Tenho a sensação de fim de ano não finalizado. Sei lá, deve ser mesmo cisma minha, ou não? Já li ou ouvi alguém dizer que 2013 é um ano que não terminou. Terá lógica isso? Sei lá, mas os velhos problemas do ano anterior continuam. Por que insistimos em imaginar que tudo será diferente no ano que vai nascer?
Se fosse diferente não haveria falta de água e luz no verão. Não haveria lixo nas praias e ruas. Não haveria esgotos a céu aberto. Não haveria mortes por balas perdidas. Não haveria problemas nos transportes públicos. Os preços não subiriam acima da inflação. A violência não aumentaria. O governador não viajaria tanto para o exterior. A presidente (sim, presidente!) não se preocuparia com os conchavos políticos. Os políticos corruptos devolveriam o dinheiro público roubado. Todas as obras iniciadas no ano anterior estariam concluídas. E muito mais que não caberia aqui.
Não caí na onda do pessimismo. Nosso país tem futuro - do pretérito.
Enquanto durar o verão,  passar o carnaval e outros blocos, o ano não inicia, suspira. 
Manifestações congeladas, o jeito é contentar-se com os "rolezinhos" da galera. Confesso que não entendi até agora o motivo do tal "rolezinho". Nem eu, nem a torcida do flamengo.
Enfim... que venha 2014!
 

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Abismo

Cadê a zona de convergência
do nosso amor mal resolvido?
O que se cala não consente
na ausência de conflito.

Sentimento - sinônimo de abismo.
Ou você pula sem olhar
ou contempla o infinito.